Rhaenyra, Alicent e como o trauma geracional afeta os filhos de mães não amadas

 


Estamos em mais uma temporada de "A Casa do Dragão" da HBO, série prequel à história da série Game of Thrones, que conta a história da guerra civil que ocorreu em Westeros, conhecida como "Dança dos Dragões". Nessa guerra civil, a Princesa Rhaenyra Targaryen, herdeira declarada pelo seu pai, Viserys, teve o trono usurpado por uma tramoia elaborada pela segunda esposa do seu pai (e ex-melhor amiga) Alicent Hightower, seu pai, Otto Hightower e mais uma galera, em detrimento do seu irmão, Aegon II. 

Não quero entrar no mérito dos motivos para essa guerra acontecer, nem entrar a fundo nos temas da guerra, consequências, histórico, etc, mas sim falar um pouco sobre como as relações entre mães (Rhaenyra e Alicent) e filhos (Lucerys, Jacaerys, Joffrey de Rhaenyra e Aegon, Aemond e Helaena de Alicent) estão sendo representadas na série e o quão intenso e real o trauma geracional pode ser nas relações entre as mães e seus filhos.


Disclaimer: estou usando como referência a dinâmica da série de tv, não dos livros!

 


Rhaenyra Targaryen sempre foi amada pelos pais, mesmo sendo mulher. No universo criado pelo George R. R. Martin, as mulheres não são lá muito valorizadas em Westeros, elas inclusive não são consideradas na linha de sucessão ao trono. 

Mas, mesmo sendo a filha mais velha e mesmo seu pai perdendo a sua primeira esposa (e sua mãe) devido às tentativas de gerar de um herdeiro do sexo masculino, a Rhaenyra era amada. Tanto era que após a morte da sua mãe durante o parto e o falecimento de seu irmão, ela e seu pai se aproximaram e Viserys defendeu sua indicação ao trono até seu último suspiro. Literalmente. 

A Rhaenyra era extremamente educada, inteligente, sagaz. Ela ela valorizada pelos seus pais devido a sua inteligência e como ela tinha potencial para se tornar uma grande rainha.

Alicent não teve a mesma sorte. Ela era próxima da sua mãe, mas seu pai a enxergava apenas como uma moeda de troca para conquistar poder. Ela sempre era desvalorizada pelos seu pai, que a obrigou a se casar com um rei muitos anos mais velho que ela, todo carcomido por doença e que ainda por cima era pai de sua melhor amiga.

Alicent e seus filhos


A forma como a Alicent cuida e interage com seus filhos é uma das coisas que mais me deixa triste na série. A Alicent enxerga seus filhos da mesma forma que o seu pai a enxergava: como moeda de troca. Ela não consegue dar amor, cuidar dos filhos, entender que eles precisam de seu amor e cuidado, e que isso deveria ser sua prioridade e não o dever com a coroa. A única exceção é sua relação com sua filha Helaena, mas mais por ela ser diferente de seus irmãos, mas também pois como ela é uma mulher, ela não tem valor como moeda de troca. 

Todos os passos, ações e medidas que a Alicent toma com relação aos filhos são completamente motivados pela forma como aquilo vai ser bom para o poder pessoal dela e de seu pai. O resultado disso é que seus filhos são inconsequentes, mimados, e não sabem externalizar seus sentimentos de insegurança, medo, fraqueza, tendo que procurar outras formas extremamente piores de externalizarem isso. Seus filhos homens estrupram, matam parentes, são crueis e torturam. Sua filha mulher é oferecida como esposa para o próprio irmão. É um caos.

Não só a Alicent é a culpada pelo comportamento dos filhos. O rei Viserys amava apenas a Rhaenyra. Ele ignorava completamente seus filhos com a Alicent, para ele, eles também não tinham serventia, já que sua filha mais velha, Rhaenyra, já iria ser a rainha, então por qual motivo ele deveria se preocupar com seus outros filhos?

Uma das coisas que eu gostei dessa segunda temporada foi a forma como retrataram a relação dos seus filhos Aegon e Helaena com os filhos deles (netos da Alicent). O Aegon é extremamente apaixonado pelo seu filho. Tudo bem que ele mima muito a criança e humilha as outras pessoas para satisfazer suas vontades, mas ainda assim é nítido como ele ama o filho pela forma como sua morte o afeta. Ele queria ser o pai que ele não teve.

Rhaenyra e seus filhos


Na série, a relação da Rhaenyra com seus filhos é totalmente o oposto. Rhaenyra conheceu o amor dos pais, e isso reflete na forma como ela cuida de seus filhos. Ela preza pela seu desenvolvimento como sers humanos, educação, pela forma como eles se tratam entre si e como tratam os outros. Ela cuida, dá amor e os enxerga como pessoas. 

Uma das cenas que mais me fez chorar nessa nova temporada foi quando o seu filho mais velho, Jacaerys, vem falar com a mãe após a morte do seu irmão Lucerys e como a mãe reage. Na cena em questão, ele chega de cabeça erquida, segurando o choro, e tentando fingir que o pior não aconteceu. Ele tenta segurar o choro e agir conforme um herdeiro do trono "deveria agir" e é a sua própria mãe que se levanta, o abraça e tenta o tranquilizar, mostrando que ele pode confiar nela, contar com ela e que eles passarão por aquele momento difícil juntos. 

Acho que o segundo episódio foi a forma que mais deixou escancarada a diferença entre Rhaenyra e Alicent quando se trata de ser mãe. Alicent não consegue acalentar e cuidar dos filhos com suas dificuldades e sentimentos, mesmo quando o filho de um deles é brutalmente assassinado. Seu filho do meio acaba buscando acalento junto a prostitutas pois todos os renegam e rejeitam suas ideias (tudo bem que as ideias dele são uma bosta, mas ainda assim...). 

Já Rhaenyra acalenta, aconselha e atribui responsabilidades aos seus filhos com base nas suas capacidades e vontades, entendendo suas ideias e cogitando, quando necessário.


Enfim, estou amando essa segunda temporada, estou achando a série no nível das primeiras temporadas de GoT. Bons tempos...

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